sábado, 26 de setembro de 2020

COMVIDA DIZ NÃO A TENTATIVA DE CONSULTA PUBLICA SOBRE INVENTÁRIO HIDRELÉTRICO NA BACIA DO MADEIRA

 COMITÊ DE DEFESA DA VIDA AMAZÔNICA NA BACIA DO RIO MADEIRA - Contra as Mudanças Climáticas e por Justiça Socioambiental - COMVIDA


AO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EM RONDÔNIA- MPF

PORTO VELHO – RO


Senhoras Procuradoras

Senhores Procuradores

 

Nós entidades e movimentos sociais que fazemos parte do Comitê COMVIDA, vimos por meio deste, informar-lhes que temos sido procurados, por meio telefônico, por pessoas da comunicação social da empresa Worley Parsons, com sede na cidade de Guajará Mirim-RO, nos convidando para participar de uma audiência pública virtual, a ser realizada em data a definir, onde pretendem apresentar para consulta pública, o inventário hidrelétrico do rio Madeira e Mamoré, estudos contratados pela Eletrobrás do Brasil e a ENDE da Bolívia, com recursos oriundos da CAF – Cooperação Andina de Fomento.

Face ao exposto, o COMVIDA se posiciona contrário a realização de qualquer tipo de audiência pública pelos seguintes motivos:

1. Estamos em plena pandemia de Coronavírus, cujas normas sanitárias orientam que as pessoas devem permanecer ao máximo em suas casas, aldeias, seringais, agricultura familiar, nos beiradões de nossos rios, evitando vir pra cidade para evitar contaminações, haja visto que, em nosso Estado de Rondônia e de modo particular em Guajará Mirim, a pandemia tem ceifado a vida de muita gente;

2. Como a ordem e ficar isolado ao máximo para evitar o contágio, assim nossos povos e comunidades estão fazendo. Em nossas aldeias, seringais entre outros, não chega sinal de enternet que dê condições de acompanhar audiências, reuniões, seminários de forma virtual, como na cidade as vezes se consegue. Então, como querer que nossos povos e comunidades, do Brasil e da Bolívia, já que o projeto de estudo é binacional, vão participar se o direito à informação e comunicação à distância não nos é assegurado;

3. Nós povos indígenas da Terra Indígena Laje e Ribeirão, assim como também os extrativistas da Resex do Rio Ouro Preto, já temos nossos Protocolos de Consulta e Consentimento, à luz da Constituição de 1988 e da Convenção 169 da OIT. Em nossos protocolos aprovados em assembleias manifestamos, que todo e qualquer projeto que nos afete positivo ou negativamente, o Governo brasileiro deve proceder à Consulta conforme nossos Protocolos. Não nos cabe dialogar com empresas, pois nossos territórios são propriedades da União, cabendo nos assegurar o direito a vida, proteção e fiscalização. Entretanto, são territórios de usufruto exclusivo dos que ali vivem. Assim sendo, entendemos que não é legitimo empresas particulares quererem realizar consultas para possíveis projetos de interesses governamental e ou empresarial;

4. Nossos rios Madeira, Mamoré e Guaporé fazem parte de uma bacia hidrográfica transnacional: Brasil, Bolívia, Paraguai e Peru. Exigimos que, qualquer proposta de projeto nestes rios transfronteiriços, previamente prescinda da formação de um Comitê de Bacia de Rios Transfronteiriços paritário, para analisar propostas de projetos e os possíveis impactos em sinergia em toda esta grande bacia;

5. Para nós, o rio é Vida para toda forma de vida que vive em suas margens e dentro dele. Nós queremos nossos rios livres de projetos que promovem suas mortes, à exemplo da mortandade e desaparecimento dos peixes com a construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, gerando insegurança alimentar e nutricional para acima e abaixo das barragens, no Brasil e na Bolívia. Não bastasse a morte dos peixes vieram a morte das florestas para darem lugares aos lagos e daí em 2014 veio a reação da Mãe Natureza com a grande inundação, deixando claro, que as empresas e governos gananciosos não sabem entender a Mãe Terra, os rios e as florestas, os ciclos das águas e tudo o mais, porque eles não sabem escutar. Nossos rios são portadores de direitos!


Diante do exposto, pedimos apoio deste Ministério Público Federal para, que acionem judicialmente, a seu tempo, instâncias legais em território brasileiro, para que não se realize nenhuma audiência pública virtual ou presencial, em tempo de pandemia ou posteriormente, sem que ao menos se atenda e leve em conta nossos direitos, nossas especificidades culturais nesta região binacional de Guajará Mirim e Guayaramerin e os Protocolos de Consulta e Consentimento.


Desde já agradecemos pela atenção.


Guajará Mirim-RO, 07 de setembro de 2020.


Subscrevem este documento como parte do COMVIDA


-Organização OROWARI dos Povos Indígenas de Nova Mamoré e Guajará Mirim;

-Associação da Terra Indígena Igarapé Ribeirão;

-Associação da Terra Indígena Igarapé Laje;

-Conselheira de Base da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira- COIAB;

-Associação dos Agroextrativistas da Resex do baixo Rio Ouro Preto- ASAEX;

-Associação dos Agricultores Familiares de Nova Mamoré- GRAMA;

-Coletivo Mura de Porto Velho;

-Instituto Madeira Vivo- IMV;

-Pastoral Indigenista de Guajará Mirim;

-Conselho indigenista Missionário- CIMI\RO;

-Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB\RO;

-Central dos Movimentos Populares- CMP\RO;

-Comissão Pastoral da Terra – CPT\RO;

-Coletivo Popular Direito à Cidade- CPDC\PVH.

-Núcleo do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental de Rondônia


COMITÊ BINACIONAL DEFENSOR DA VIDA AMAZÔNICA NA BACIA DO RIO MADEIRA LANÇOU VÍDEO DOS PROTOCOLOS DE CONSULTA E CONSENTIMENTO

"PROTOCOLOS DE CONSULTA E CONSENTIMENTO SÃO INSTRUMENTOS DE RESISTÊNCIAS"





No último dia 05 de setembro de 2020, dia Internacional da Mulher Indígena e Dia da Amazônia, por meio virtual, o Comitê Binacional Defensor da Vida Amazônica na bacia do rio Madeira (COMVIDA), sob a coordenação do Instituto Madeira Vivo, lançou o vídeo documentário que traça a linha histórica da elaboração dos Protocolos de Consulta e Consentimento na bacia do rio Madeira.

Contou com a participação das mulheres indígenas Lídia Anty e Herlan Noco (OCMA) de Guayaramerin Bolívia, Jap Verônia Kanoé Oro Mon (professora e liderança indígena), Márcia Mura (Coletivo Mura de Porto Velho) e Iremar Ferreira (IMV). Convidados da Organização OroWari, dos Mura, Tenharim e Extrativistas não conseguiram acessar por problemas de enternet, o que revela a exclusão digital de nosso povo nesta vasta Amazônia.

Os participantes afirmaram a importância deste processo de construção coletiva, de formação e mobilização binacional, fortalecendo a resistência a grandes projetos com um instrumento legal.

Ainda na oportunidade decidiram, diante da tentativa de iniciar o processo de audiências públicas para apresentar resultados do inventário hidrelétrico Brasil e Bolívia, por meio de Carta, acionar o Ministério Público Federal (MPF), para que o mesmo promova assim que possível, a suspensão desta tentativa, pois fere os Protocolos de Consulta e Consentimento dos Povos Indígenas das terras Igarapé Lurdes, Ribeirão e dos extrativistas da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, seguido pelo agravante de estarmos vivendo em tempos de pandemia.

Para assistir o documentário na íntegra segue link

https://www.youtube.com/watch?v=NnKhHDwqu0I 

domingo, 5 de abril de 2020

ENTRE AS PAREDES E O COVID 19

ENTRE AS PAREDES E O COVID 19

"cada um tem sua guerra... a nossa agora é contra um inimigo invisível o COVID 19 e as de mais de 520 anos"


Querido diário... eu nunca tive diário... mas tive cadernos de anotações durante minha itinerância junto aos povos indígenas em RO e MT de modo especial... em meus cadernos de anotações buscava de forma etnográfica marcar meu tempo de vivência e o que mais me marcava nestas vivências. Não me tornei etnográfico acadêmico, mas um etnográfico de vida...
Bom, foi com essa experiência que me atrevo a escrever de vez em quando alguns apontamentos, seja do que me intriga, seja do que me move.
Por isso agora me sinto provocado a escrever "entre as paredes e o COVID 19", já que, estamos em pleno domingo, dia 05 de abril de 2020, dia de ramos para os católicos... na minha interpretação o dia de ramos representa o dia da acolhida de Jesus na cidade...ele voltava de alguma viagem e quando as pessoas souberam que ele iria entrar na cidade, cujo local representava, o centro do poder, e ele, o insubordinado rumar para a cidade significava instigar o povo contra os donos do poder... saudar com ramos, retirados da natureza era como que se estivessem oferecendo o que de mais valioso este povo tinha, o meio natural como companheiro.
Bom deixando o dia de ramos de lado, que não estava no pensamento inicial, mas de repente me atravessou, e isso é coisa do hipertexto que nós somos, volto a pensar entre paredes, e talvez os ramos, a rua, entrar na cidade seja o desejo de ver terminado logo essa quarentena. E estar entre paredes não significa estar fechado ou fechada em si... pode significar tempos de aberturas, inclusive para escrever este texto por exemplo... pode significar tempo de reflexão na reclusão... 
Aqui na Maloca Querida em Porto Velho, dividimos a casa eu, minha companheira Márcia Mura, meu filho Lucas Mura e nossa parenta Tenharim, a Suelane, estudante de técnica de enfermagem. Nosso outro filho Tanan Mura está na aldeia Mura do Itaparanã, com a parentada, antes do vírus pegar valendo; já minha nora Tatiane e meu netinho Buhuraem Mura estão na Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto em Guajará Mirim, cuidando de seus pais.
Dessa forma, nós quatro em Porto Velho dividimos nosso tempo em muitos tempos distintos: do cuidar da casa, dos cachorros e gatos, do fazer os alimentos diários, dos contatos com a parentada para obter e partilhar informações, produzir algum texto, alguma postagem nas mídias sociais, gravar um vídeo para as crianças na contação de historias, na escrita de relatórios de projetos, na reorganização de eventos (oficinas, encontros, seminários, fóruns, curso de formação entre outros), assim como na denúncia de violações de direitos.
A música de vez em quando ocupa nosso espaço e tiramos o violão do saco e deixamos que algumas músicas nos atravessem e arrisco até a compartilhar com compas pelos meios digitais. Até um filme de comédia é apreciado não todo dia, mas que ajuda a quebrar o clima tenso.
Todos temos saudades... e como temos... Lucas de sua companheira Tatiana e de seu filho Buhuraem... Nós também...cada dia sabemos que estamos perdendo um pouco das novidades criativas que uma criança de 1 ano e 4 meses... Eu e Márcia também sentimos saudades de nosso povo na comunidade de Nazaré, de nossa Maloca Mura 1 e 2, da roça, da Maloquinha em construção e até da preocupação com os cupins que são rápidos... Suelane Tenharim com certeza sente saudades de seus pais e familiares...principalmente de sua avó de 101 anos, que tem estado doente ultimamente... 
Também temos preocupações... cada nova notícia o sobre-salto toma conta, a ansiedade e a tristeza... mataram mais um parente Guajajara, morreu uma parenta Borari em Alter do vírus, morreu um parente Mura de Covid em Manaus... não estão registrando todos os casos de mortes decorrentes de problemas respiratórios e com isso não sabemos de fato o tamanho do risco que estamos correndo... aliás mesmo parados estamos em risco... 
É a pandemia, é a falência de um sistema geopolítico capitalista depredador, mas que até mesmo na desgraça do povo se alimenta com a venda de materiais... é o vírus construído no laboratório chamado de planeta Terra pelas mãos dos tais humanos, os mesmos que choram seus mortos, são os mesmos que produzem morte pelo nível de contaminação provocado nas entranhas da Terra.
Mas este ano tem eleição no nível municipal... teria Olimpíadas, ainda terá o FOSPA em Mocoa, teria o ATL no mês de Abril em Brasília... teria ou terá a saída de um "louco" da presidência do Brasil ainda este ano...
Entre paredes e o CONVID 19 eu acredito é na rapaziada, na força da fé e da memória ancestral, de que nós sairemos de mais uma... mas o bom é que todos estejamos juntos quando isso tudo passar. Por isso #Fiqueemcasa por você, por nós e pelos outros... a Casa Comum pede ação e se puder ajude quem estiver em condições mais difíceis que você.

Forte abraço e que Namantuiky nos proteja e nos guie nos caminhos da Justiça Socioambiental.

Iremar Antonio Ferreira - 05\04\2020

literatura em tempo de quarentena

quarta-feira, 1 de abril de 2020

PESCADORES DE CACHUELA ESPERANZA DECIDEM FAZER SEU PROTOCOLO

PESCADORES DE CACHUELA ESPERANZA DIZEM SIM AO PROTOCOLO DE CONSULTA

No dia 01 de março de 2020, na comunidade de Cachuela Esperanza, às margens do rio Beni, foi realizada a reunião de mobilização e sensibilização dos pescadores tradicionais e demais comunitários com o objetivo de preparar a oficina de construção do Protocolo de Consulta e Consentimento.
Esta oficina foi articulada pelo Comité Binacional Defensor da Vida Amazonica na Cuenca do rio Madeira, do qual o IMV e OCMA fazem parte, com apoio de pescadores locais, membros do Comité Civico.
Foi acordado que no mês de maio deverá ser realizado esta oficina, com duração de dois dias.

algumas fotos registram este momento importante.



REUNIÕES DE MOBILIZAÇÃO DE PROTOCOLOS DE CONSULTA

PESCADORES DO IATA SE ORGANIZAM EM DEFESA DE DIREITOS

No dia 28 de fevereiro de 2020, a Comunidade do IATA, distrito de Guajará Mirim-RO, se encontrou para realizar a oficina de mobilização e sensibilização quanto a importância de construir o instrumento de defesa, à luz da Convenção 169 da OIT e da Constituição Federal, o Protocolo de Consulta e Consentimento.
Pescadores, agricultores familiares e comunitários se reuniram na sede da Associação dos Agricultores, cujo encontro foi organizado por Dona Gerônima da Colonia de Pescadores e pela Chaguinha e companhia da coordenação da Associação.
Nós do Comitê Defensor da Vida Amazonica na bacia do rio Madeira, núcleo do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental marcamos presença e firmamos compromisso de apoiar esta construção.
Um numero significativo com mais de 70 pessoas participaram e decidiram que no mês de Abril deverá ser realizado a oficina, caso não haja nenhum impedimento.

vejam as fotos que ilustram esta participação.